terça-feira, 14 de julho de 2009

Artigo Jornal União | 13 Junho 2009

"Juliana Couto é uma jovem arquitecta terceirense formada na Faculdade de Arquitectura do Porto, que recentemente abriu o seu atelier na Canada das Almas, em São Carlos. Com apenas 28 anos e depois de trabalhar em dois gabinetes conceituados na ilha, Juliana Couto sentiu a necessidade de arriscar o seu sonho.

O número dois da Canada das Almas em São Carlos tem um novo inquilino. Juliana Couto escolheu esse calmo espaço para abrir o seu gabinete de arquitectura, um sonho que sempre teve desde que foi para o Porto estudar: “foi sempre minha ambição regressar à ilha Terceira para trabalhar e se possível abrir um atelier meu, onde pudesse exercer a minha profissão de forma própria."

Após trabalhar em dois conceituados gabinetes locais, a jovem arquitecta sentiu a que estava pronta para abraçar este novo desafio. “Ainda estava no terceiro ano da faculdade e já trabalhava com o arquitecto Francisco Cunha, onde inclusive tirei o meu estágio curricular e o estágio para a ordem, depois fui trabalhar com o arquitecto José Parreira. De certo modo aprendi muito com estas experiências, absorvi os melhores aspectos do trabalho prático”, explica.

Aberto desde Março, o seu atelier está já labora a todo o gás. Os trabalhos incidem sobretudo nos projectos de moradias unifamiliares, na reconstrução de moradias e reconversão de habitações para turismo rural. Apesar de satisfeita a jovem mostra uma garra de gigante sentindo-se capaz de ousar projectos de maior envergadura, onde pode aplicar toda a sua criatividade e talento. “Gosto dos projectos que tenho desenvolvido, mas são todos, de uma forma ou de outra, limitadores. Gostava de fazer um projecto onde vincasse a minha identidade, onde o meu cunho pessoal fosse indiscutível”, concretiza.

O passo mais importante está dado – introduzir no circuito de trabalho a sua empresa – agora é necessário arregaçar mangas e lutar para vingue. Sendo natural da Terceira não a assusta a sua juventude. “As pessoas já me viram nos gabinetes dos meus colegas a trabalhar, agora já vão conhecendo e respeitando o meu trabalho. Acredito que é uma questão de tempo para me afirmar”, sublinha.

O gosto pelo enquadramento, tirando partido das “belezas” naturais dos terrenos, a predilecção por luz natural, elementos da terra, como a pedra local, e o respeito pelas áreas envolventes podem ser alguns dos pontos fortes desta jovem arquitecta: “eu penso que os nossos projectos devem respeitar o que já existe quando essa herança é de valor, ou devem marcar a diferença quando assim for necessário. No fundo serem gritos ou silêncios arquitectónicos, de acordo com as exigências dos enquadramentos e não as vontades ou vaidades de quem os projecta”.

Abrir horizontes dos clientes

Com Souto Moura à cabeça das suas referências, Juliana Couto tem uma visão muito própria do panorama actual do sector: “ainda existem muitos problemas em abrir as mentalidades à arquitectura contemporânea, especialmente se falarmos nas habitações unifamiliares. Os clientes trazem as suas casas pensadas e cabe a nós redireccionar esse pré esboços para um resultado final satisfatório”.

Um trabalho que muitas vezes passa por “ensinar” as pessoas a olhar para novas soluções, abrindo os horizontes dos clientes, muitas vezes encerrados no que o meio envolvente lhes dá, desconhecendo as linhas mais vanguardistas. “É nossa função criar um projecto que agrade e satisfaça as necessidades dos clientes, eles porém nem sempre têm a noção de que as suas casas de sonho não se encaixa nas suas necessidades e contingências, por vezes até físicas do terreno”, esclarece Juliana Couto.

Na ilha a jovem arquitecta tem algumas obras que lhe agradam bastante, exemplo do Hotel Praia Marina, do Arquitecto José Parreira, o Pavilhão Multiusos de Angra do Heroísmo, do Arquitecto Fernando Costa e a Estalagem da Serreta do Arquitecto já falecido João Correia Rebelo.

Novas oportunidades

A juventude não é no caso de Juliana Couto um problema, a sua persistência e o gosto pelos desafios que traça si mesma é uma característica que lhe confere uma capacidade de luta contra as adversidades. No entanto não deixa de realçar que muitos jovens que regressam à terra para trabalhar precisam de oportunidades e aponta alguma responsabilidade nessa matéria aos órgãos do poder local ou regional. Segundo a jovem e reportando-se á sua área de trabalho, seria de todo importante que as adjudicações directas também incluíssem os recém licenciados que procuram o seu espaço no mercado de trabalho e que podem ser mais um motor gerador de emprego. Juliana Couto não tem duvida que essa realidade se verifica em quase todas as áreas de trabalho, onde os jovens carecem de muito empenho e capacidade de sobrevivência para se aguentarem e se afirmarem nas suas profissões."

Fernando Pereira

In Jornal União de 13 de Junho de 2009